Microminerais
Os microminerais, geralmente chamados de minerais traço, estão presentes no organismo em quantidades muito menores do que os macrominerais. Enquanto os macrominerais estão presentes na dieta numa proporção de 0,5% a 1% da matéria seca (o peso do alimento após a remoção de toda a humidade), os microminerais existem em quantidades muito menores, inferiores a 1000 mg por kg, geralmente expressas em partes por milhão (ppm).
Os microminerais incluem cobre, cobalto, ferro, manganês, zinco, iodo, selénio e crómio. Embora sejam essenciais para a saúde, muitas vezes são negligenciados. Encontram-se nos oceanos, lagos salgados e no solo, e, apesar de o organismo precisar apenas de pequenas quantidades, a deficiência de microminerais pode ter um impacto enorme na saúde. Nos cães e gatos, as deficiências de microminerais são relativamente comuns.
Os microminerais são essenciais para quase todas as funções metabólicas do organismo, pois trabalham em conjunto com várias outras substâncias. Se houver uma deficiência, pode desencadear uma cascata de problemas, uma vez que outros compostos não conseguem desempenhar corretamente as suas funções.
Ferro
O ferro é o quarto elemento mais abundante na Terra e é um nutriente essencial, desempenhando um papel fundamental na formação da hemoglobina e da mioglobina, que transportam oxigénio pelo corpo através do sangue. Além disso, auxilia o funcionamento de várias enzimas e regula o metabolismo energético.
A hemoglobina encontra-se nos glóbulos vermelhos e transporta oxigénio dos pulmões para os tecidos, enquanto a mioglobina faz o transporte de oxigénio nos músculos. O ferro pode existir sob duas formas: ferro heme (orgânico, presente em alimentos de origem animal) e ferro não heme (inorgânico, encontrado em plantas). O ferro também pode ser armazenado no fígado, mas a quantidade absorvida pelo organismo é rigorosamente regulada, pois a sua excreção é mínima. Quando as reservas de ferro são elevadas, o corpo reduz a absorção para evitar toxicidade.
A deficiência de ferro não é muito comum, mas a anemia pode ocorrer, especialmente em fêmeas gestantes. Cachorros e gatinhos que ingerem leite pobre em ferro podem apresentar crescimento deficiente, letargia e diarreia com sangue. A deficiência de ferro também pode ser causada por perda de sangue, sendo as causas mais frequentes parasitas intestinais, pulgas e carraças.
Os produtos de origem animal são as fontes mais ricas em ferro, especialmente na forma heme, que é mais bem absorvida do que o ferro não heme presente nas plantas.
Fontes de ferro na alimentação:
Fígado
Carne vermelha
Peixe
Ovos
Vegetais de folha verde
Leguminosas
Frutos secos e sementes
Zinco
O zinco desempenha um papel essencial no organismo, sendo um cofator ou catalisador para mais de 200 enzimas envolvidas no metabolismo de proteínas, hidratos de carbono e gorduras. Está presente em todas as células do corpo e contribui para a cicatrização de feridas, função imunitária, reprodução, crescimento, visão, coagulação sanguínea, saúde da pele e regulação do açúcar no sangue.
Este mineral também possui propriedades antioxidantes, ajudando a proteger as células contra danos causados pelos radicais livres. Além disso, é fundamental para a libertação de vitamina A pelo fígado, o que significa que uma deficiência de zinco pode imitar os sintomas da carência de vitamina A.
A deficiência de zinco manifesta-se através de lesões cutâneas, pelagem frágil, despigmentação dos pelos e dificuldades na cicatrização de feridas. Em cachorros, pode comprometer o crescimento.
Raças do norte, como Huskies e Malamutes, podem ter uma predisposição genética para má absorção de zinco. Além disso, dietas ricas em fitatos (presentes em farelo de trigo, arroz, cereais, soja e amendoins) podem reduzir a biodisponibilidade do zinco. O excesso de zinco é raro, mas pode causar deficiência de cobre, pois interfere na sua absorção. As melhores fontes alimentares de zinco incluem:
Carnes vermelhas
Baço
Fígado
Peixe
Cobre
O cobre pode existir na sua forma livre, mas, na maioria dos casos, está presente sob a forma de sal de cobre. É um componente essencial de muitas enzimas e está envolvido no metabolismo do ferro, na formação e desenvolvimento das células vermelhas do sangue, na síntese do tecido conjuntivo, no metabolismo energético e na pigmentação normal do pelo. Além disso, ajuda a proteger o organismo contra danos oxidativos.
A absorção do cobre ocorre principalmente no intestino delgado, e a quantidade absorvida depende do teor de cobre na dieta. Se a ingestão alimentar de cobre for baixa, o organismo aumentará a sua absorção a partir dos alimentos. O fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo do cobre, e a sua concentração hepática reflete o estado geral do mineral no corpo.
A deficiência de cobre pode ocorrer, mas é difícil determinar a quantidade exata necessária para um cão ou gato, uma vez que a quantidade de cobre nos alimentos varia muito. Além disso, a presença de ferro e, especialmente, de zinco, pode diminuir a disponibilidade do cobre.
Embora existam poucos estudos sobre a deficiência de cobre em cães e gatos, sabe-se que pode causar:
Perda da pigmentação do pelo na face e cabeça;
Anomalias esqueléticas, como hiperextensão dos punhos e antebraços;
Baixa contagem de glóbulos brancos, detetável em análises ao sangue;
Problemas neurológicos e possíveis alterações comportamentais.
Os excessos de cobre são raros, mas algumas raças de cães, como os Bedlington Terriers, podem ter um defeito hereditário que leva à acumulação excessiva de cobre no fígado, provocando danos hepáticos. Nestes cães, a concentração hepática de cobre pode ser 10 vezes superior à normal. Outras raças como West Highland White Terriers, Skye Terriers, Doberman Pinschers e Labradores também podem ser afetadas por esta condição. O tratamento geralmente envolve a suplementação com zinco, uma vez que o zinco reduz a absorção do cobre.
As melhores fontes de cobre incluem:
Fígado (especialmente fígado de vaca)
Ostras e caranguejo
Frutos secos, sementes, lentilhas e cogumelos
Nos ruminantes, cerca de 75% do cobre encontra-se armazenado no fígado. Por isso, o consumo excessivo de fígado de vaca ou de outros ruminantes pode levar a uma toxicidade por cobre, causando danos hepáticos, sintomas neurológicos, distúrbios oculares e anemia.
Iodo
O iodo é um mineral essencial, pois faz parte dos hormonas da tiroide, que são cruciais para a regulação da atividade celular, do crescimento e do desenvolvimento, além de controlarem o metabolismo energético do organismo.
Cerca de 75% do iodo do corpo encontra-se na glândula tiroide, onde é convertido em T4 (tiroxina) e T3 (triiodotironina), as formas ativas de iodo que o corpo pode utilizar.
A quantidade de iodo que o cão e o gato necessita depende principalmente da sua dieta, mas as fêmeas em lactação precisam de uma quantidade superior. Além disso, alguns excessos minerais, incluindo cálcio, potássio, flúor, manganês e arsénio, podem aumentar a necessidade de iodo na dieta.
Estudos mostram que a deficiência de iodo pode levar à destruição da glândula tiroide e ao desenvolvimento de hipotiroidismo ou bócio (aumento da tiroide).
Sintomas de deficiência de iodo:
Aumento de peso
Pele seca
Pelagem fraca
Sensibilidade a temperaturas e ruídos
Alterações comportamentais
Défice imunitário
Problemas reprodutivos
O excesso de iodo também pode causar bócio e outros sintomas.
Sintomas de excesso de iodo:
Bócio
Anomalias ósseas
Pele e pelo ásperos
O iodo está presente nos ovos de peixe e em plantas marinhas como o kelp, e em quantidades mais moderadas em animais terrestres. No entanto, a sua concentração varia bastante consoante o teor de iodo no solo onde os animais são criados.
Selénio
O selénio é um componente essencial de enzimas que protegem o organismo contra danos oxidativos provocados pelos radicais livres. Estes radicais podem prejudicar células e DNA, contribuindo para o envelhecimento e o desenvolvimento de doenças, incluindo cancro. Os antioxidantes, como o selénio, neutralizam os radicais livres e ajudam a minimizar os danos que causam.
O selénio também desempenha um papel na função tiroideia e na regulação do sistema imunitário. Baixos níveis de selénio foram associados a cancro e doenças autoimunes, como artrite reumatoide, embora ainda não esteja claro se a deficiência de selénio é uma causa ou apenas uma consequência dessas doenças. Estudos mostram que pessoas que vivem em regiões com solos ricos em selénio apresentam menores taxas de cancro.
Além disso, há evidências de que o selénio pode proteger contra a toxicidade do mercúrio. Algumas espécies de peixes que consomem dietas ricas em selénio apresentam níveis mais baixos de mercúrio no organismo.
Sintomas de deficiência de selénio:
Enfraquecimento do sistema imunitário
Aumento do risco de doenças autoimunes
Perda de cabelo
Emagrecimento
Problemas reprodutivos
Distrofia muscular
Por outro lado, o excesso de selénio pode causar problemas de pele, queda de unhas, mau hálito e perda de peso.
As principais fontes alimentares de selénio incluem:
Peixe
Carne
Fígado e rim
Cogumelos
Noz do Brasil
Sementes
Ovos
Manganês
O manganês não aparece na sua forma livre na natureza, estando normalmente combinado com ferro ou outros minerais. É um ativador essencial de diversas enzimas responsáveis pelo funcionamento metabólico normal.
Este mineral desempenha um papel fundamental no ciclo da ureia, ajudando a remover o excesso de azoto e amónia resultantes da degradação dos aminoácidos. Também auxilia no metabolismo dos hidratos de carbono, aminoácidos e gorduras, além de ajudar o corpo a lidar com o stress oxidativo.
Sintomas de deficiência de manganês:
Crescimento deficiente
Problemas reprodutivos
Anomalias esqueléticas
Alterações na coagulação sanguínea
Dificuldades metabólicas
Fraqueza em ligamentos e tendões
Cicatrização deficiente
O manganês ativa enzimas responsáveis pela produção de colagénio, que fortalece os tecidos moles e ajuda na reparação de lesões. Sem manganês suficiente, o organismo não consegue produzir colagénio adequadamente, o que pode resultar numa cicatrização deficiente. Alguns cães com rupturas do ligamento cruzado podem, na verdade, apresentar deficiência de manganês.
O manganês está presente em:
· Mexilhão de lábios verdes
· Tripa verde
· Sementes
· Vegetais de folha verde
No entanto, alimentos ricos em ácido fítico (como feijões, sementes, frutos secos, cereais integrais e soja) e ácido oxálico (como espinafres, couve e batata-doce) podem inibir a absorção de manganês e de outros minerais como ferro, cálcio e fósforo. Além disso, o excesso de zinco pode competir com o manganês pela mesma via de absorção, podendo levar a uma deficiência de um ou de ambos os minerais.
Cobalto
O cobalto faz parte da estrutura da vitamina B12 (cobalamina), e as suas funções são bastante semelhantes às desta vitamina. O cobalto ajuda na formação dos glóbulos vermelhos, no funcionamento do sistema nervoso e nos processos metabólicos.
Embora rara, uma deficiência de vitamina B12 também resulta numa deficiência de cobalto, e vice-versa.
A intoxicação por cobalto pode ocorrer se um cão ingerir objetos que contenham cobalto, como pilhas, brocas ou ímanes.
As melhores fontes de cobalto/cobalamina incluem:
Fígado e rins
Leite
Ostras
Algas marinhas
Alperces
Crómio
O crómio desempenha um papel fundamental na regulação da glicose e do açúcar no sangue. Além disso, ativa várias enzimas e participa no metabolismo dos hidratos de carbono, proteínas e gorduras.
Os suplementos de crómio são frequentemente utilizados no controlo da diabetes. No entanto, ainda existem poucos estudos sobre o teor de crómio nos alimentos.
Alimentos ricos em crómio incluem:
Vegetais de folhas escuras
Gérmen de trigo
Algumas frutas
Referências:
· Material do Curso Raw Dog Food Nutrition Specialist; DNM University
· Material do Curso Advanced Canine Nutrition Specialist; DNM University
· Material do Curso Dieta Cetogénica; Dr Jack Motta
· Artigo “Don’t Forget The Minerals”; Feed Real Institute
· Artigo “NRC Essential Nutrients: Microminerals”; Perfectly Rawsome