Vitaminas Hidrossolúveis

Os micronutrientes na dieta incluem as vitaminas e os minerais, e estas substâncias ocorrem apenas em quantidades muito pequenas nos alimentos e no corpo, pelo que não é necessário consumi-las em tanta quantidade como os macronutrientes. Embora não forneçam energia ao corpo, os micronutrientes desempenham papéis críticos e são essenciais para a vida.

As vitaminas só foram descobertas por cientistas no início do século XX. Pesquisadores da época descobriram que doenças como o escorbuto, o raquitismo e o beribéri eram causadas por deficiências de vitamina C, D e B1, respetivamente. Já nos anos 30 e, certamente, nos anos 40, a pesquisa sobre vitaminas tornou-se muito popular, e até o público em geral começou a interessar-se pelas vitaminas e pelo seu papel na saúde.

Atualmente, os pesquisadores ainda estão muito interessados nas vitaminas, mas elas são muito mais complexas do que os cientistas inicialmente imaginaram. Os primeiros pesquisadores pensavam que as vitaminas eram componentes simples e isolados, mas hoje sabe-se que elas são, na verdade, complexos grandes, com cada parte contribuindo para o todo. Estamos a aprender que essa complexidade torna quase impossível replicar vitaminas naturais em laboratório. Apenas os alimentos podem conter todos os minerais, enzimas, coenzimas e cofatores que formam os complexos vitamínicos completos, e é improvável que os pesquisadores e cientistas consigam replicar vitaminas naturais em laboratório tão cedo.

A vitamina B, por exemplo, aparece em pelo menos 17 formas diferentes, e a vitamina D em pelo menos uma dúzia de formas e componentes. Elas são realmente muito complexas, e isso é apenas o que sabemos hoje. No futuro, os pesquisadores podem descobrir ainda mais formas de vitaminas e identificar mais vitaminas. As interações complexas com os seus cofatores e com outras vitaminas não são bem compreendidas, e por esta razão se torna muito difícil equilibrar alimentos processados com vitaminas sintéticas.

Mas neste caso, como estamos a discutir nutrientes nas dietas naturais, não vamos dedicar tempo às vitaminas sintéticas, mas é importante compreender que um dos principais atrativos das dietas à base de alimentos naturais é que o animal que a consome não precisa de depender de vitaminas sintéticas para obter a sua nutrição. Mas esse não é o caso com alimentos processados secos, enlatados e até algumas dietas naturais comerciais.

As vitaminas podem ser divididas em duas categorias: solúveis em água e solúveis em gordura. As vitaminas lipossolúveis incluem as vitaminas A, D, E e K. Estas vitaminas são armazenadas nos tecidos do corpo, o que significa que, se um cão receber uma quantidade excessiva de uma vitamina lipossolúvel, ao longo do tempo pode ocorrer hipervitaminose ou excesso de vitamina.

As vitaminas hidrossolúveis são as vitaminas do complexo B e a vitamina C. Estas vitaminas não são armazenadas no corpo como as lipossolúveis, pelo que devem geralmente estar presentes na dieta diariamente. No entanto, se forem ingeridas em excesso, o corpo usará o que precisa e excretará o resto através da urina. No entanto, isso não significa necessariamente que excessos não possam ocorrer com as vitaminas hidrossolúveis.

De forma geral, as vitaminas podem vir de uma variedade de fontes alimentares, tanto de origem vegetal como animal, e, como veremos, algumas vitaminas também podem ser fabricadas ou sintetizadas pelo corpo. A definição de uma vitamina é: um grupo de compostos orgânicos encontrados em alimentos naturais, mas diferentes de proteínas, gorduras, hidratos de carbono, minerais e água. Elas estão presentes apenas em quantidades muito pequenas e são essenciais para o metabolismo normal, crescimento, desenvolvimento, manutenção e reprodução. Além disso, a ausência de vitaminas na dieta, ou a sua má absorção ou utilização, pode causar doenças específicas por deficiência.

Nem sempre as vitaminas são sintetizadas pelo corpo em quantidades suficientes para atender à necessidade, sendo necessário obtê-las através da dieta. Algumas vitaminas não precisam de estar presentes nos alimentos, pois os cães e gatos conseguem sintetizar as suas próprias.

Vitaminas do Complexo B

A vitamina B é um complexo de vitaminas que atuam em conjunto para promover nervos, pele, olhos, cabelo, fígado e músculos saudáveis, além de contribuir para um sistema cardiovascular robusto. Elas também ajudam a proteger contra ansiedade e problemas comportamentais. Todas as vitaminas do complexo B auxiliam o corpo a converter alimentos em energia.

As vitaminas do complexo B são todas hidrossolúveis, vamos então analisar cada uma delas individualmente.


Vitamina B1

A tiamina, ou vitamina B1, recebeu esse nome por ser a primeira vitamina descoberta. Está profundamente envolvida no metabolismo de energia e hidratos de carbono, sendo essencial para o corpo produzir ATP, a molécula de energia usada por todas as células do organismo.

Principais funções:

• Energizante

• Entra na síntese proteica

• Síntese das pentoses

• Condução nervosa

• Metabolismo dos hidratos de carbono

• Síntese da acetilcolina

• Promove crescimento

• Melhora saúde mental

• Auxilia na digestão

• Fortalece o sistema nervoso

• Previne o stress

A tiamina é encontrada numa grande variedade de alimentos. Os tecidos animais contêm as maiores quantidades de vitamina B1. No entanto, a tiamina também pode ser encontrada em ingredientes de origem vegetal.

Fontes animais:

• Fígado (principalmente o de porco)

• Carnes bovina e porco

• Carnes de coelho e frango

• Sardinha, salmão, linguado




Vitamina B2

A riboflavina, ou vitamina B2, faz parte de uma coenzima chamada FAD (dinucleótido de flavina e adenina), que é crucial para o metabolismo energético. A riboflavina ajuda a manter células sanguíneas saudáveis, o metabolismo, a pele e os olhos, além de prevenir danos causados pelos radicais livres.

Os radicais livres podem danificar células e DNA, contribuindo para o processo de envelhecimento e para o desenvolvimento de problemas de saúde, incluindo o cancro. Os antioxidantes são substâncias capazes de combater os danos provocados pelos radicais livres.

Além disso, a riboflavina é necessária para ajudar o organismo a transformar a vitamina B6 e o folato em formas utilizáveis.

Os sinais de deficiência de riboflavina incluem crescimento retardado, dermatite e prurido, problemas digestivos e distúrbios oculares.

Fontes Animais:

• Ovo

• Fígado, coração e rim

• Carnes bovina e porco

• Carnes de coelho e frango

• Sardinha, salmão, arenque

 

Fontes Vegetais:

• Espinafre

• Ginseng

• Semente de erva-doce

• Ervas: raiz de bardana, camomila, cavalinha, salsa, hortelã-pimenta, sálvia



Vitamina B3

A niacina, ou vitamina B3, faz parte da coenzima nicotinamida adenina dinucleótido (NAD), que é um cofator em diversas reações críticas no corpo. Desempenha um papel importante na saúde cardiovascular, no metabolismo, na função cerebral, na saúde da pele e na prevenção e tratamento da diabetes.

Principais funções:

• Transporte de elétrons

• Oxidação de ácidos gordos

• Síntese da forma ativa de folato (entra na síntese do metilfolato)

• Essencial para uma boa circulação e uma pele saudável

• Aumenta a energia

• Auxilia na digestão

• Ajuda a prevenir dores de origem neurológica

• Deficiência causa pelagra

Os sintomas de deficiência incluem diarreia e problemas digestivos, alterações na boca e na língua, salivação excessiva, pele inflamada e, em casos mais graves, comprometimento mental.

Fontes Animais:

• Carnes de frango e porco

• Carnes de coelho, peru, borrego

• Sardinha, salmão, atum

 


Fontes Vegetais:

• Alcaçuz

• Semente de erva-doce

• Ervas: raiz de bardana, verbasco, salsa, hortelã-pimenta



Vitamina B5

O ácido pantoténico, ou vitamina B5, é uma parte essencial da coenzima A, que desempenha um papel crítico no metabolismo. O ácido pantoténico é importante para o bom funcionamento das glândulas suprarrenais e desempenha um papel vital no metabolismo celular, ajudando a decompor gorduras e hidratos de carbono para gerar energia.

A vitamina B5 também tem um papel crucial na produção de glóbulos vermelhos, assim como das hormonas relacionadas com o sexo e com o stress, produzidas nas glândulas suprarrenais. Além disso, contribui para a manutenção de um trato digestivo saudável e auxilia o corpo na utilização de outras vitaminas, incluindo a B2 (riboflavina).

Fontes:

• Carnes vermelhas: principalmente carne bovina crua (o cozimento diminui bastante a vitamina B5)

• Frango, peru

• Salmão, linguado, sardinha

• Ervas: raiz de bardana


A deficiência de B5 é rara, mas quando ocorre, pode causar fígado gordo, baixos níveis de gordura no sangue, redução de anticorpos, perda de peso e taquicardia, que é um batimento cardíaco acelerado.

Vitamina B6

A piridoxina, ou vitamina B6, é utilizada em diversas reações no corpo. Ela ajuda a produzir vários neurotransmissores, que são substâncias químicas responsáveis por transmitir sinais de uma célula nervosa para outra. A vitamina B6 é necessária para o desenvolvimento e funcionamento normal do cérebro, além de auxiliar o corpo na produção das hormonas serotonina e norepinefrina, que influenciam o humor, e da melatonina, que regula o relógio biológico.

A presença da vitamina B6 também é essencial para a produção de glicose, para a absorção da vitamina B12 e para a formação de glóbulos vermelhos e células do sistema imunitário. A deficiência de B6 pode causar perda de peso, crescimento deficiente, anemia, doenças renais e cálculos de oxalato.

A piridoxina é uma vitamina frágil e facilmente perdida durante a cozedura e processamento dos alimentos. Apesar disso, ela contribui para o funcionamento de mais de 100 enzimas e desempenha um papel importante no metabolismo de proteínas, hidratos de carbono e gorduras.

Fontes Animais:

• Camarão

• Carnes vermelhas

• Frango

• Salmão

 

Fontes Vegetais:

• Abacate

• Castanha e nozes

• Banana

• Cenoura

• Espinafres

• Lentilhas

Em humanos, a deficiência de B6 tem sido associada a diabetes, distúrbios do sistema nervoso e doenças cardíacas, embora essas deficiências sejam raras em dietas razoavelmente equilibradas, já que a vitamina B6 está presente na maioria dos alimentos.


Vitamina B7

A vitamina B7, também conhecida como biotina ou vitamina H, é uma coenzima hidrossolúvel e, tecnicamente, não é uma vitamina verdadeira. Uma coenzima é um composto não proteico que auxilia no funcionamento das enzimas.

A deficiência de biotina é rara, mas os sintomas incluem hiperqueratose (um espessamento da camada externa da pele), anorexia e diarreia com sangue.

A biotina é encontrada em alimentos como:

• Ovo (especialmente na gema)

• Fígado

• Sardinhas

• Nozes

• Leguminosas

• Leveduras.

Existe a crença que ovos crus podem ser um problema para cães, pois contêm uma proteína chamada avidina, que interfere na absorção de biotina pelo organismo. No entanto, as gemas de ovo são uma excelente fonte de biotina, e a deficiência geralmente só ocorre se apenas as claras forem consumidas por longos períodos de tempo.

Além disso, medicamentos anticonvulsivos também podem interferir na absorção de biotina.



Vitamina B9

A vitamina B9, ou folato, é um cofator no metabolismo de aminoácidos e trabalha em estreita colaboração com a vitamina B12 para ajudar a produzir glóbulos vermelhos e permitir que o ferro funcione adequadamente no organismo.

Além disso, atua juntamente com as vitaminas B6 e B12, além de outros nutrientes, para controlar os níveis de aminoácidos no sangue. Baixos níveis de folato são comuns em animais com doença inflamatória intestinal e também em animais que fazem certas medicações.

O folato também desempenha um papel importante no desenvolvimento fetal, e a sua presença em fêmeas grávidas pode ajudar a reduzir o risco de defeitos congénitos do tubo neural, incluindo fendas palatinas e danos cerebrais. Os defeitos do tubo neural e os defeitos congénitos são causados pelo desenvolvimento anormal do tubo neural, uma estrutura que eventualmente dá origem ao cérebro e à medula espinal.

Fontes:

• Ovo, carne vermelha

• Frango, peru

• Salmão, linguado, sardinha

• Ervas: alecrim, dente de leão, salsa, espirulina




Vitamina B12

A vitamina B12, ou cobalamina, é única porque é produzida apenas por microrganismos, como os encontrados no trato digestivo. Assim, a B12 dietética é encontrada apenas em produtos de origem animal, já que apenas os animais hospedam essas colónias de bactérias.

A B12 é importante para a saúde das células nervosas e também auxilia na produção de DNA e RNA, que são o material genético do corpo. A vitamina B12 trabalha em estreita colaboração com a B9 para produzir o composto S-adenosilmetionina, ou SAMe, que está envolvido na função imunológica e no humor.

Cães mais velhos podem ter mais dificuldade em absorver a vitamina B12, pois isso depende do ácido gástrico. Além disso, certos medicamentos, diabetes, doenças pancreáticas ou intestinais também podem causar deficiência de B12, assim como uma dieta vegana ou vegetariana, já que a vitamina é encontrada apenas em proteínas de origem animal.

Apesar disso, é raro que os cães sejam deficientes nesta vitamina. Quando ocorre, os sintomas podem incluir fadiga, anemia, diarreia e alterações de humor, sendo estes últimos normalmente os primeiros sinais.

Fontes

• Carnes vermelhas

• Fígado

• Sardinha

• Ovo





Vitamina C

Além do complexo de vitamina B, a vitamina C é outra vitamina solúvel em água. A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico, é uma das vitaminas menos estáveis e pode ser rapidamente afetada pela luz, calor, exposição ao ar e também pelo processamento.

Os cães e gatos conseguem produzir a sua própria vitamina C a partir de açúcares, enquanto os humanos, primatas, porquinhos-da-índia e algumas aves e peixes não conseguem, porque a enzima responsável pela sua produção foi desativada, provavelmente porque a vitamina C está facilmente disponível na dieta desses animais.

A vitamina C é essencial para apoiar os tecidos conjuntivos do corpo, incluindo a cartilagem, os ossos, os vasos sanguíneos e os dentes. Isso ocorre porque ela atua como coenzima na produção de colagénio, que é a estrutura de suporte da maioria dos tecidos conjuntivos do corpo. O colagénio também contém informações celulares e ajuda a combater infeções.

A vitamina C desempenha um papel crucial na cicatrização de feridas e na produção dos neurotransmissores (ou hormonas de disparo nervoso) norepinefrina e serotonina. Também é necessária para a formação de carnitina, que transporta gorduras para as mitocôndrias, as pequenas "centrais de energia" das células.

Além disso, a vitamina C é um poderoso antioxidante, protegendo o corpo contra danos causados por radicais livres, e parece proteger contra a toxicidade por chumbo.

A deficiência de vitamina C pode ocorrer ocasionalmente em cães e gatos, pois a capacidade de produzi-la varia muito entre os animais. Estudos mostram que os cães produzem menos vitamina C quando estão stressados ou doentes. A fome e a desnutrição também podem afetar a produção de vitamina C.

Os sinais de deficiência incluem escorbuto, que se manifesta como sangramento das gengivas, diarreia, dentes soltos, dores nas articulações e perda de colagénio nos ossos e tecidos conjuntivos. Ao contrário dos cães, os gatos não parecem sofrer de deficiência de vitamina C.

Fontes:

• Frutas cítricas

• Pimentos vermelhos

• Brócolos

• Kale

• Espinafres

• Morangos


De um modo geral, as vitaminas hidrossolúveis encontram-se em maiores concentrações em carnes vermelhas, fígado, peixe e vegetais de folhas verdes. O excesso de vitaminas hidrossolúveis não é armazenado nos tecidos do corpo, pelo que as doses recomendadas destas vitaminas devem ser ingeridas diariamente para uma saúde ideal.


Referências:

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