Hidratos de Carbono
Os hidratos de carbono são encontrados na maioria dos alimentos de origem vegetal, onde podem fornecer uma fonte rápida de energia. Existem vários tipos de hidratos de carbono, mas podem ser divididos em duas categorias principais: hidratos de carbono simples e complexos. A principal função dos hidratos de carbono é fornecer energia. O excesso de hidratos de carbono será armazenado nos músculos e no fígado sob a forma de glicogénio ou será convertido em gordura uma vez que essas reservas estejam cheias.
Hidratos de carbono simples
Os hidratos de carbono simples são frequentemente chamados de açúcares simples porque a sua estrutura molecular contém apenas uma ou duas moléculas de açúcar.
Hidratos de carbono complexos
Os hidratos de carbono complexos são frequentemente referidos como polissacarídeos, pois a sua estrutura molecular contém várias moléculas de açúcar.
Hidratos de Carbono Simples
Os hidratos de carbono simples são frequentemente conhecidos como “açúcares simples” ou simplesmente “açúcar”. Existem dois tipos de hidratos de carbono simples: monossacarídeos e dissacarídeos. Estes hidratos de carbono são rapidamente decompostos pelo corpo e usados como fonte de energia.
Monossacarídeos
A forma mais simples de hidratos de carbono são os monossacarídeos, pois a sua estrutura molecular contém apenas uma molécula de açúcar. Os monossacarídeos contêm todos seis átomos de carbono dispostos numa forma hexagonal. Existem três tipos diferentes de monossacarídeos:
Glicose
Todas as plantas produzem glicose através da fotossíntese. É armazenada nas paredes celulares das plantas e está presente em todas as frutas e vegetais. A maior parte da glicose nas plantas é usada para criar outros hidratos de carbono, como o amido e a fibra. É a única forma de açúcar que o corpo pode usar diretamente como energia.
Frutose
A frutose é o mais doce de todos os hidratos de carbono. As plantas produzem frutose para atrair insetos e animais selvagens que as ajudam na polinização e reprodução. A frutose está particularmente abundante nas frutas, onde desempenha um propósito funcional. Os animais consomem as frutas e eliminam as sementes nas fezes, ajudando a semear novas plantas.
Galactose
A galactose é encontrada em produtos lácteos. No entanto, está frequentemente ligada à glicose para formar um dissacarídeo. Não é comum encontrar galactose na sua forma de monossacarídeo nos alimentos.
Dissacarídeos
A segunda forma de hidratos de carbono simples são os dissacarídeos, formados pela ligação de dois monossacarídeos. Existem três tipos diferentes de dissacarídeos:
Maltose
A maltose é composta por duas moléculas de glicose ligadas. Não ocorre naturalmente nos alimentos, exceto nos grãos germinados. Quando os grãos começam a germinar, os seus amidos decompõem-se e formam maltose.
Sacarose
A ligação de uma molécula de glicose com uma molécula de frutose cria a sacarose. A sacarose é produzida pelas plantas pelos mesmos motivos que a frutose – para atrair insetos e animais que consomem a fruta e ajudam a semear novas plantas.
Lactose
A lactose, conhecida como “açúcar do leite”, é criada pela ligação de uma molécula de glicose com uma molécula de galactose. Os produtos lácteos são os únicos alimentos de origem animal que fornecem esta forma de hidrato de carbono.
Produtos lácteos
Os alimentos lácteos, como leite, iogurte, kefir e requeijão, estão incluídos em algumas dietas naturais para fornecer aminoácidos e gorduras. Estes ingredientes podem ser benéficos em dietas especificas para doenças renais e sensibilidade ao ácido úrico devido ao seu perfil nutricional único.
Os ingredientes lácteos fornecem proteínas essenciais e aminoácidos, ao mesmo tempo que mantêm níveis muito baixos de fósforo (ideal para doenças renais) e ácido úrico (ideal para dietas com baixo teor de purinas). A fermentação dos produtos lácteos pode trazer benefícios adicionais sob a forma de probióticos à base de leite.
ATENÇÃO: Intolerância à lactose
Não é incomum que cães e gatos tenham problemas digestivos com alimentos à base de leite. É importante introduzir esses alimentos lentamente e evitá-los caso ocorram sintomas digestivos.
Hidratos de Carbono Complexos
Os hidratos de carbono complexos são frequentemente referidos como polissacarídeos, pois contêm múltiplas moléculas de açúcar. Existem três tipos principais de hidratos de carbono complexos: amido, celulose e glicogénio. Ao contrário dos hidratos de carbono simples, os hidratos de carbono complexos variam em diferentes qualidades.
Amido
As plantas produzem amido para armazenar glicose; por isso, o amido é a forma de armazenamento de hidratos de carbono nas plantas. O amido é armazenado nas sementes para fornecer energia suficiente para que estas germinem e se transformem numa nova planta. Além disso, o amido é encontrado em concentrações mais elevadas nas raízes e tubérculos, fornecendo energia à planta para crescer e reproduzir-se.
Para que o corpo o utilize como fonte de energia, os ingredientes ricos em amido devem ser completamente cozinhados para quebrar as moléculas de amido. Se os alimentos ricos em amido não forem totalmente cozinhados, o amido resistirá à digestão enzimática e fermentará no cólon (semelhante à fermentação da fibra).
Quando os amidos cozinhados são consumidos, são afetados pela digestão enzimática e metabolizados em glicose como fonte de energia.
Tubérculos
Os tubérculos são ricos em hidratos de carbono, particularmente em amido. Quando a gordura na dieta deve ser minimizada, dietas naturais muito magras beneficiam da adição de tubérculos completamente cozinhados. Além dos seus nutrientes benéficos, estes vegetais fornecem quantidades suficientes de amido como fonte de energia em substituição da gordura.
Existem muitos tipos de tubérculos, e a quantidade de amido que contêm varia. Os tubérculos mais comuns incluem batata-doce e batata branca. Outros tubérculos também fornecem amido, mas a batata têm a maior quantidade de amido. Geralmente, é incentivado optar por outros tubérculos em vez da batata branca devido ao seu maior valor nutricional. Exemplo:
Batata-doce
Inhame
Mandioca
Batata-yacon
Cereais
Os cereais são outra forma de hidratos de carbono ricos em amido. Embora haja alguma controvérsia em torno dos cereais, existem certas situações em que podem ser benéficos. Tal como os tubérculos, os cereais fornecem quantidades suficientes de amido como fonte de energia, o que os torna um ingrediente útil em certas dietas naturais. Existem muitos tipos de cereais, e a quantidade de amido varia entre eles. Cereais comuns incluem aveia, cevada, quinoa e arroz (preferir arroz integral e vaporizado em vez de arroz branco), embora existam muitos outros além destes.
Além de serem completamente cozinhados, os cereais como arroz e quinoa devem ser demolhados em água durante 24 horas antes de cozinhar para reduzir a concentração de chumbo e ácido fítico destes. O ácido fítico é encontrado em cereais e leguminosas (como ervilhas, que são comumente usadas em alimentos para animais sem cereais). É considerado um antinutriente porque pode ligar-se a minerais importantes, como cobre, ferro, magnésio e zinco, tornando-os indisponíveis para o teu cão e gato. O ácido fítico pode privar o teu cãoe gato de até 80% desses nutrientes essenciais.
NOTA: Grain-Free Não é o Mesmo que Sem Hidratos de Carbono
Existe uma ideia errada de que os hidratos de carbono são sinónimos de cereais e que "grain-free" significa "sem hidratos de carbono". Embora os cereais sejam uma fonte de hidratos de carbono, muitos outros alimentos de origem vegetal também contêm hidratos de carbono, tal como os tubérculos e as leguminosas.
Fibra
Embora a maioria dos hidratos de carbono sejam decompostos em moléculas de glicose para energia, a fibra é o único hidrato de carbono que não pode ser digerido enzimaticamente. Em vez disso, a fibra passa pelas etapas iniciais da digestão e fermenta no cólon.
A fibra é importante para a digestão, motilidade das fezes, gestão de peso, regulação do açúcar no sangue e muito mais. Existem duas formas diferentes de fibra: fibra solúvel e fibra insolúvel.
Fibra Solúvel: Dissolve-se na água e forma uma substância semelhante a gel. É conhecida por ajudar a regular os níveis de glicose e é benéfica em casos de fezes soltas.
Fibra Insolúvel: Não se dissolve na água e aumenta o volume fecal. Este aumento é benéfico para corrigir a obstipação e a irregularidade na consistência e frequência das fezes.
Glicogénio
Todos os animais têm a capacidade de armazenar hidratos de carbono em excesso como glicogénio no fígado e nos músculos, para ser usado como fonte de energia em períodos de escassez. No entanto, embora os hidratos de carbono em excesso sejam armazenados no músculo, não estão presentes na carne crua porque são rapidamente decompostos quando o animal é abatido.
Digestão e Absorção de Hidratos de Carbono
Em muitas espécies, a digestão dos hidratos de carbono começa na boca com a enzima digestiva amilase. No entanto, os cães não possuem amilase salivar, por isso a digestão dos hidratos de carbono só ocorre no intestino delgado. Os amidos e os açúcares simples são, em grande parte, digeridos e absorvidos no intestino delgado.
A maioria dos amidos e açúcares simples é digerida pela amilase secretada pelo pâncreas. Enzimas adicionais presentes nas células da mucosa intestinal auxiliam nas etapas finais da digestão e absorção dos hidratos de carbono.
Se o organismo não conseguir digerir completamente todos os hidratos de carbono, estes acumulam-se no lúmen do intestino delgado, resultando numa redução na absorção de água e minerais devido a um aumento da pressão osmótica. Pode também ocorrer fermentação excessiva, levando ao crescimento excessivo de bactérias, diarreia, flatulência e distensão abdominal.
Hidratos de Carbono, Glicose e o Papel da Insulina
Quando qualquer hidrato de carbono é digerido, é decomposto em glicose, que é a forma que o corpo pode usar como energia. Quando isso acontece, a insulina é libertada pelo pâncreas para mover a glicose do sangue para dentro das células, onde será usada como combustível. Mas isso não é tudo o que a insulina faz. A insulina também ajuda na síntese de proteínas e a converter a glicose em lípidos, armazenando-os no corpo. Além disso, a ativação da insulina faz com que o corpo pare de decompor e mobilizar as suas próprias reservas de gordura.
Assim, se a dieta de um cão ou gato estiver continuamente a estimular a libertação de insulina, a perda de peso será limitada, mesmo numa dieta de calorias restritas. Os únicos alimentos que causam um aumento rápido da glicose e da secreção de insulina são os hidratos de carbono.
A rapidez com que aumentam o açúcar no sangue depende da rapidez com que são digeridos. A velocidade da digestão dos hidratos de carbono aumenta com a cozedura, mas diminui se o alimento for rico em proteínas e gorduras. Se a glicose for libertada lentamente, o açúcar no sangue não aumentará tão rapidamente, e a insulina não será libertada.
Neste caso, a hormona que funciona como antagonista da insulina, o glucagon, permanecerá elevada. Quando o glucagon está elevado, as reservas de gordura serão mobilizadas e utilizadas pelo corpo.
Índice Glicémico e Carga Glicémica
A capacidade de um alimento aumentar a glicose no sangue é chamada de índice glicémico. Embora o índice glicémico seja útil, a carga glicémica dos alimentos oferece uma visão muito mais completa. A carga glicémica é o índice glicémico multiplicado pela quantidade de açúcar numa porção, sendo uma indicação muito melhor de quão rapidamente a glicose no sangue é aumentada, o que, por sua vez, prevê melhor o pico de insulina.
Embora as frutas possam ter um índice glicémico bastante alto, a sua carga glicémica é relativamente baixa, pois contêm pouco açúcar e são ricas em água. De um modo geral, uma pequena quantidade constante de açúcar ou hidratos de carbono na dieta não é apenas inofensiva, mas também benéfica.
Uma pequena quantidade de açúcar não atinge necessariamente o limiar para libertar insulina no corpo, mas, uma vez que a insulina é libertada, as reservas de gordura serão afetadas. Além disso, existem outros problemas associados à carga glicémica.
Os hidratos de carbono com uma carga glicémica mais alta são a fonte alimentar preferida de muitas bactérias patogénicas. Assim, cães e gatos que consomem uma dieta mais rica em hidratos de carbono, como rações secas para animais, estarão a alimentar essas bactérias patogénicas. Com a continuação ao longo do tempo, pode resultar numa condição chamada disbiose, que pode tornar-se um problema de saúde significativo e que pode despoletar muitos outros problemas e desequilíbrios no organismo.
Mas afinal os Hidratos de Carbono devem ser ou não incluídos na dieta de cães e gatos?
Os cães e gatos não têm qualquer necessidade alimentar comprovada de hidratos de carbono segundo a NRC, AAFCO ou FEDIAF. Não são uma parte essencial da dieta, e acho que isso diz muito sobre a quantidade que deveria estar presente na alimentação. Enquanto as proteínas fornecem energia e são usadas para construir tecidos, e as gorduras fornecem energia e são usadas para construir membranas celulares, hormonas e vitaminas, os hidratos de carbono apenas fornecem energia. E é só isso!
Sabemos, a partir de alguns estudos, que os lobos consomem cerca de 2 a 3% de matéria vegetal, incluindo bagas, nozes e outras frutas, que oferecem benefícios para a saúde devido aos compostos nutracêuticos que contêm. Em relação ao DNA, descobriu-se recentemente que os cães domésticos têm mais cópias do gene necessário para produzir a enzima envolvida na digestão do amido (alfa-amilase pancreática 2B, ou simplesmente AMY2B) em comparação com dingos ou lobos, que possuem apenas 2 cópias. Este é um vislumbre da evolução em ação: os cães têm vivido com populações agrícolas há milhares de anos, o que significa que provavelmente encontraram mais hidratos de carbono na dieta, incentivando alguma adaptação ao longo do tempo.
Existem algumas exceções, como o Husky Siberiano, o Malamute do Alasca, o Akita e o Shiba Inu, que possuem apenas 3 a 4 cópias do gene AMY2B, provavelmente devido à sua evolução ao lado de humanos cujas dietas eram pobres em amidos, mas ricas em peixes gordos e marisco.
A conclusão destes estudos é que esta mutação genética permitiu que os cães se adaptassem melhor à digestão do amido em comparação com os lobos e outros cães selvagens.
A maior concentração de hidratos de carbono em dietas naturais cruas é encontrada nas frutas, que possuem, em média, apenas 6 a 8%. Os vegetais contêm cerca de 4% de hidratos de carbono, enquanto os germinados têm entre 2 e 5%.
Algumas dietas naturais cozinhadas para cães podem conter entre 10 a 30% de hidratos de carbono com origem em tubérculos ou cereais. No caso dos gatos, sendo eles carnívoros obrigatórios, 3 a 4 % de hidratos de carbono é aceitável, mas apenas com origem em vegetais evitando ao máximo utilizar tubérculos, leguminosas e cereais. Nestas percentagens estas são consideradas dietas saudáveis e bioapropriadas tanto para cães como para gatos.
Vamos agora comparar isto com os 30% a até 60% de hidratos de carbono presentes nas rações secas para cães e gatos, sendo que muitas vezes os hidratos de carbono usados têm índice e garga glicémicos bem altos. Assim fica bem claro que há uma grande diferença entre estas dietas.
Portanto sim, os cães e gatos podem comer e digerir hidratos de carbono e armazenar o excesso como gordura, mas isso não significa que estes devam ser uma parte substancial da sua dieta, principalmente quando falamos de gatos.
Comentários Finais
Embora não exista um requisito estabelecido de hidratos de carbono para cães e gatos, a inclusão de alguns hidratos de carbono numa dieta natural pode ser benéfica em certas situações e quantidades. A nutrição deve ser sempre individualizada e adaptada a cada animal. Exemplos:
Regular a consistência das fezes
Em dietas pobres em gordura como fonte de energia
Em certas patologias
Cadelas grávidas e lactantes
Cachorros em crescimento
Cães atletas
Para aumento de peso
Referências
The Forever Dog; Dr. Karen Shaw Becker & Rodney Habib
Feeding Dogs – The science Behind The Dry Versus Raw Debate; Dr. Conor Brady
The Truth About Carbohydrates; Feed Real Institute
Carbohydrates in Raw Diets; Perfectly Rawsome
Material do curso Raw Dog Food Specialist; Dr. Marion Smart & Dana Scott
Material dos cursos Alimentação Natural Para Cães e Gatos Saudáveis; Dra Sylvia Angélico