Gorduras

As gorduras são nutrientes indispensáveis na alimentação de cães e gatos, desempenhando papéis fundamentais não só como fonte concentrada de energia, mas também como componentes estruturais e funcionais essenciais no organismo. As gorduras, ou lípidos que são sólidos à temperatura ambiente, como as gorduras animais e a manteiga, são normalmente chamadas de "gorduras", enquanto aquelas que são líquidas à temperatura ambiente são chamadas de "óleos".

O Que São Gorduras e Porque São Importantes

As gorduras, ou lípidos, são moléculas orgânicas ricas em energia. Fornecem mais do que o dobro das calorias por grama comparadas com proteínas e hidratos de carbono (9 kcal/g vs. 4 kcal/g). Para além da função energética, as gorduras:

  • Ajudam na absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K).

  • Participam na formação das membranas celulares.

  • Funcionam como mensageiros químicos no organismo.

  • Regulam processos inflamatórios através de ácidos gordos específicos.

  • Contribuem para a saúde da pele, pelagem e reprodução.

Nos cães e gatos, as gorduras são essenciais para a sobrevivência e para a manutenção da saúde. A deficiência ou excesso de gorduras pode causar desde alterações dermatológicas até problemas metabólicos graves.

Classificação das Gorduras

As gorduras alimentares podem ser agrupadas com base na sua estrutura química e no tipo de ácidos gordos que as compõem. A gordura mais frequentemente referida em nutrição é o triglicérido. Um triglicérido é uma molécula composta por glicerol, que consiste em três átomos de carbono alinhados, e a cada átomo de carbono está ligada uma cadeia de ácidos gordos, que se assemelham a pequenas "caudas". Mono e diglicéridos são moléculas de glicerol com apenas uma ou duas dessas "caudas" de ácidos gordos ligadas, enquanto os triglicéridos têm três caudas.

Os triglicéridos dividem-se em três tipos, dependendo do número de ligações duplas presentes nos seus ácidos gordos: saturados, monoinsaturados e polinsaturados. As ligações duplas são rígidas e, quando presentes nos ácidos gordos, criam uma "torção" impedindo que fiquem próximas umas das outras. Como resultado, as gorduras insaturadas, como os óleos vegetais, têm um ponto de fusão mais baixo do que as gorduras saturadas, como a manteiga. Assim, enquanto a manteiga (gordura saturada) tende a ser sólida à temperatura ambiente, a maioria das gorduras vegetais (polinsaturadas) são líquidas à temperatura ambiente.

Saturadas:

    • Não possuem ligações duplas entre os átomos de carbono.

    • São sólidas à temperatura ambiente, como a gordura animal e a manteiga.

    • Fornecem energia e ajudam na produção de calor.

Insaturadas:

    • Monoinsaturadas: Contêm uma ligação dupla

    • Polinsaturadas (PUFAs): Possuem várias ligações duplas, como os ácidos gordos essenciais ómega-3 e ómega-6. São fundamentais para a saúde imunológica e hormonal.

Ácidos Gordos de Cadeia Curta e Média:

  • Cadeia curta (menos de 6 carbonos): Estes são produzidos, ou fermentados, pelas bactérias benéficas que vivem no cólon, ou podem ser fabricados a partir de outras gorduras no corpo. Estes ácidos gordos desempenham um papel crucial na saúde das células que revestem o intestino grosso, bem como no fluxo sanguíneo, na atividade muscular e na absorção de água. Além disso, os ácidos gordos de cadeia curta servem como alimento para as bactérias benéficas. As fontes alimentares de ácidos gordos de cadeia curta provêm tipicamente de fibras, e as bactérias que estas alimentam, bem como a sua presença na dieta, podem aliviar diarreia crónica e IBD (síndrome do intestino irritável). É por esta razão que a fibra é uma parte importante da dieta. Os ácidos gordos de cadeia curta incluem ácido acético, propiônico, butírico, capróico e caprílico.

    • Cadeia média (6-12 carbonos): Podem apoiar o microbioma, ou seja, as colónias de bactérias benéficas que vivem no intestino, porque possuem propriedades antibacterianas, antifúngicas e antiparasitárias, além de propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Estes ácidos gordos estão presentes em algumas gorduras animais e vegetais, incluindo leite, óleo de coco e óleo de palma. Muitos possuem nomes com a palavra latina "Capra", que significa "cabras", sendo, por isso, comuns no leite.

Ácidos Gordos de Cadeia Longa:

Os ácidos gordos de cadeia longa contêm 13 ou mais átomos de carbono, e, normalmente, quando falamos de gorduras na dieta, referimo-nos às gorduras de cadeia longa. Existem cinco ácidos gordos essenciais para cães e gatos, e todos eles são ácidos gordos de cadeia longa. Estes são:

  1. Ácido linoleico (LA)

  2. Ácido alfa-linolénico (ALA)

  3. Ácido araquidónico (AA)

  4. Ácido eicosapentaenóico (EPA)

  5. Ácido docosa-hexaenóico (DHA)

Todos estes ácidos gordos são ácidos gordos polinsaturados, também conhecidos como PUFAs.

Ácidos Gordos Essenciais

Ómega-6

  • Ácido Linoleico (LA):

    • Contém 18 moléculas de carbono e duas ligações duplas, tendo o número lipídico 18:2.

    • Foi o primeiro ácido gordo a ser considerado essencial para cães e gatos, e a falta de ácido linoleico está associada a problemas de pele e pelagem.

    • Fontes: Gordura de aves e porco e óleos vegetais (girassol, milho, coco).

 

  • Ácido Araquidónico (AA):

    • Contém 20 átomos de carbono e 4 ligações duplas (20:4)

    • Os cães podem sintetizar ácido araquidónico a partir do ácido linoleico, pelo que não é considerado um ácido gordo essencial nos cães. Necessário para gatos, que não o sintetizam a partir do LA.

    • Fontes: Gordura de aves, carnes magras, gemas de ovo e alguns óleos de peixe.

Ómega-3

  • Ácido Alfa-Linolénico (ALA):

    • Contém 18 moléculas de carbono e três ligações duplas (18:3)

    • Precursor do EPA e DHA, embora a conversão em cães e gatos seja baixa.

    • Fontes: Sementes de linhaça e chia e óleo de peixe.

 

  • Ácido Eicosapentaenoico (EPA):

    • Contém 20 átomos de carbono e cinco ligações duplas (20:5)

    • Importantes para a saúde cerebral, ocular e redução da inflamação. Há estudos que mostram que a falta de EPA está associada à depressão em animais e que este ácido possui propriedades antiartríticas.

    • Fontes: Peixes gordos (sardinha, anchova, salmão), óleos marinhos e também no fitoplâncton.

 

  • Ácido Docosa-Hexaenoico (DHA):

    • Contém 20 átomos de carbono e seis ligações duplas (20:6)

    • Importantes para a saúde cerebral, ocular e redução da inflamação.

    • Fontes: Peixes gordos (sardinha, anchova, salmão), óleos marinhos e também no fitoplâncton.

Equilíbrio entre Ómega-6 e Ómega-3 hoje em dia

O equilíbrio entre ómega-6 e ómega-3 é crucial. O excesso de ómega-6 pode induzir a inflamação crónica, enquanto o ómega-3 ajuda a controlá-la. Estudos mostram que a dieta moderna, rica em carnes de animais criados com grãos e cereais, frequentemente apresenta uma proporção desequilibrada de até 20:1 (ómega-6: ómega-3), enquanto o ideal seria algo próximo de 5:1.

Se o Teu Cão Come Ração

A maioria dos lípidos presentes na ração que o teu cão consome atualmente provavelmente provém de uma fábrica de processamento. Se houver gordura animal, a lista de ingredientes deverá indicar "gordura de vaca" ou "gordura de frango". Caso contrário, geralmente aparece apenas como "gordura animal" como fonte.

Se alimentares o teu cão com ração, tenta evitar a maioria dos suplementos de peixe, pois muitos deles oxidam antes mesmo de chegarem à prateleira. Além disso, muitos óleos de peixe são ricos em metais pesados, o que pode ser prejudicial para a saúde do teu cão.

Para melhorar a tigela do teu cão, adiciona sardinhas frescas e inteiras por cima. Além de serem uma rica fonte de gordura e proteína, os peixes menores tendem a conter menos contaminantes. Alimentar com mexilhões de lábios verdes, azuis ou pretos também é vantajoso.

 

Se Cozinhas em Casa ou Alimentas com Comida Crua

Certifica-te de integrar uma variedade de peixes e marisco na dieta do teu cão, quer o alimentes com comida crua ou cozinhada em casa. Para garantir variedade, deves oferecer pelo menos três fontes diferentes ao teu cão. Sardinhas, cavala, ostras e mexilhões podem ser incluídos na tigela do teu cão.
Uma fonte de proteína de alta qualidade, como ovos orgânicos de galinhas criadas ao ar livre, também pode fornecer mais gorduras saudáveis ao teu cão. Em geral, a carne vermelha tem mais gordura do que a carne de aves.

Podes comprar alguns produtos enlatados para o teu cão, mas certifica-te de que não contêm óleos prejudiciais, como o óleo de girassol, que é rico em ácidos gordos ómega-6. Isto pode causar mais danos do que benefícios. Procura cavala ou sardinhas enlatadas em água ou azeite. No entanto, sempre que possível, dá preferência a alimentos frescos.

Fontes Alimentares de Gorduras

Há uma distinção entre gorduras boas e más e entre hidratos de carbono bons e maus.
Os alimentos processados contêm gorduras não saudáveis, incluindo gorduras trans ou saturadas. As gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas são exemplos de gorduras saudáveis. Abacates, ovos, peixes gordos, nozes e gorduras animais são excelentes fontes de gorduras saudáveis para cães.

Ácido Linoleico (LA)

O ácido gordo LA é frequentemente abundante em dietas cruas que incluem ingredientes de aves e porco com gordura e pele. Dietas ricas em carne vermelha e com pouca quantidade de aves podem ser pobres em ácidos gordos LA, pois as proteínas da carne vermelha geralmente possuem baixos níveis deste ácido gordo. Ingredientes alternativos deverão ser considerados para animais com alergias/intolerâncias a produtos de aves e porco. Exemplos:

  • Gordura de frango

  • Gordura de porco

  • Pele de frango

  • Sementes de Cânhamo

  • Óleo de Coco

Ácido Araquidónico (AA)

O Ácido Araquidónico (AA) é encontrado principalmente em alimentos de origem animal e, geralmente, está presente em abundância em dietas cruas. Este ácido gordo é predominante em ovos, aves, peixe e carne de vaca. Exemplos:

  • Ovos

  • Carne de coxa de frango sem pele

  • Carne de porco

  • Carne de vaca

Ácido Alfa-Linolénico (ALA)

O ácido gordo ALA é frequentemente utilizado para equilibrar as gorduras na dieta. Recomenda-se adicionar sementes de chia e linhaça em refeições ricas em gordura de aves e porco. Por outro lado, recomenda-se adicionar sementes de cânhamo em refeições ricas em gordura de carne vermelha. Combinar o tipo certo de semente com o tipo apropriado de gordura animal na dieta ajuda a promover o equilíbrio entre os ácidos gordos LA e ALA. Exemplos:

  • Sementes de linhaça

  • Sementes de chia

  • Sementes de canhâmo

EPA + DHA

O ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA) são frequentemente recomendados em quantidades combinadas e estão altamente concentrados em alimentos marinhos, como peixes gordos. O EPA e o DHA podem ser facilmente obtidos em dietas cruas ao incluir alimentos de origem marinha, além de carne e ovos de animais criados em pasto. Exemplos:

  • Sardinha

  • Cavala

  • Mexilhão

  • Krill

Deficiência e Excesso de Gorduras

Deficiência:

A falta de ácidos gordos essenciais retarda a cicatrização de feridas, resultando em pelo seco, quebradiço e pele escamosa, alterando a camada lipídica da pele. Isso pode expor o animal a piodermite, uma condição séria de pele. Se a deficiência de ácidos gordos persistir, pode surgir alopecia (perda de pelo), edemas e dermatites húmidas.

As localizações mais frequentes de dermatite húmida, associada à deficiência de ácidos gordos essenciais, são entre os dedos e os canais auditivos externos. No entanto, as lesões podem aparecer em qualquer parte do corpo.

A deficiência em ácidos gordos essenciais também pode afetar a performance reprodutiva. A infertilidade não é o único problema, pois algumas fêmeas até podem conceber, mas têm ninhadas pequenas, taxas de crescimento reduzidas dos filhotes, alta mortalidade neonatal e outros distúrbios nos filhotes recém-nascidos.

 

Excesso:

Obesidade, pancreatite e maior propensão a doenças crónicas se acompanhado de baixo consumo de antioxidantes.

 

Interações com Outros Nutrientes

Quando os níveis de gordura na dieta são elevados, é fundamental garantir uma quantidade suficiente de antioxidantes, como a vitamina E, para prevenir a oxidação das gorduras. Se os antioxidantes forem insuficientes, as gorduras podem oxidar-se e tornar-se rançosas, o que reduz a sua palatabilidade e valor nutricional.

Dietas com alto teor de gordura, especialmente aquelas ricas em ácidos gordos ómega-3, são particularmente suscetíveis à oxidação, uma vez que os ómega-3 são menos estáveis do que os ácidos gordos ómega-6. Uma deficiência de antioxidantes combinada com uma ingestão excessiva de gorduras insaturadas pode levar à pansteatite (doença da gordura amarela), caracterizada por gordura corporal inflamada e rançosa. Os sintomas incluem fraqueza, depressão, dor e rigidez. O tratamento envolve ajustes alimentares e terapia com vitamina E.

 

Equilibrar as Gorduras

Existem formas para determinar a quantidade de gordura necessária na dieta, mas, como regra geral, incluir fontes marinhas dieta ajudará a alcançar o equilíbrio adequado. A recomendação é aumentar os ácidos gordos ómega-3 e reduzir os ácidos gordos ómega-6 quando um cão apresenta sinais de inflamação.

Aproximadamente metade das calorias do teu cão deve provir de gordura, e a outra metade de proteína. Uma dieta ancestral assemelha-se bastante a esta recomendação.

 

Conclusão

O principal papel da gordura é fornecer energia ao corpo, além de absorver e transportar nutrientes paratodo o organismo. Por isso, é importante garantir que uma dieta forneça quantidades adequadas de gordura para energia, bem como ácidos gordos essenciais para uma saúde ótima. Estes nutrientes podem ser facilmente alcançados ao alimentar com ingredientes animais, peixe e sementes.

Fornecer níveis suficientes de gordura numa dieta é bastante simples se os ingredientes apropriados forem selecionados. Certifica-te sempre de que há uma fonte de gordura na dieta que forneça calorias para energia e ajude a suprir os ácidos gordos essenciais.

 

 

Referências

·      Material do curso Raw Dog Food Specialist da DNM University

·      Material dos cursos Alimentação Natural para Cães e Gatos Saudáveis do Cachorro Verde

·      Isn’t Fat Bad For Dogs?, Feed Real Institute

·      The Ultimate Guide To Fats for Dogs, Dogs Naturally Magazine

·      NRC Essential Nutrients: Fatty Acids, Perfectly Rawsome

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