História da Indústria da Alimentação de Animais de Estimação
Os cães convivem com os humanos há milhares e milhares de anos. Estima-se que os cães foram domesticados há cerca de 15.000 anos e provavelmente têm-nos feito companhia há mais de 30.000 anos. Um estudo estima que um único evento resultou na domesticação dos cães modernos, a partir de uma única população de lobos cinzentos, há 20.000 - 40.000 anos atrás. Vários outros estudos apresentam teorias diferentes, sugerindo que os lobos foram domesticados mais de uma vez e em mais do que um local geográfico. Independentemente de virmos algum dia a descobrir exatamente onde e quando a domesticação dos cães começou, podemos concluir com segurança que nós humanos e os nossos cães têm uma longa história em comum.
Os primeiros cães domesticados comiam o que seus humanos podiam dispensar (restos de comida, ossos, fezes) e viviam principalmente no exterior. Após a Revolução Industrial, os cães começaram a ser tratados como parte integrante da família, e os seus tutores passaram a prestar mais atenção ao que lhes davam de comer.
Foi então que em 1860, um eletricista chamado James Spratt mudou a forma como os cães viriam a ser alimentados. Numa viagem de negócios a Liverpool, ele viu cães a comerem "hardtack," um simples biscoito que os marinheiros consumiam em longas viagens. Inspirado por esta descoberta, Spratt começou a formular um biscoito que pudesse servir como fonte principal de alimento para os cães. Os biscoitos, chamados Spratt’s Patent Meat Fibrine Dog Cakes, eram feitos com grãos misturados, vegetais, beterraba e partes de carne de vaca. Os biscoitos eram caros, mas o empreendimento de Spratt acabou por ser um sucesso, tendo encontrado mercado entre os cavalheiros do country side inglês. Tendo em conta este sucesso, em 1895, ele levou o produto para os Estados Unidos. Assim, no início do século XX, a ideia de comida para animais de estimação começou a ganhar popularidade.
Após a Primeira Guerra Mundial, as vendas de comida para animais de estimação aumentaram ainda mais. Muitos cavalos de guerra, considerados um custo indesejado na altura, acabaram por ser a proteína principal que ajudou no crescimento de alimentos enlatados. A Ken-L Ration foi a primeira comida enlatada a surgir, e na década de 1930 a empresa Gaines Food Company introduziu a primeira comida enlatada para gatos, bem como uma ração seca de carne para cães. Cavalos começaram a ser criados especificamente para serem usados em alimentação em lata para animais de estimação. Em 1941, comida enlatada continha 90% do mercado de alimentos para pets.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a indústria de alimentos enlatados para animais sofreu um revés significativo, pois o metal das latas era necessário para o esforço de guerra. Mas, quando a guerra terminou, a indústria de alimentos para animais voltou a prosperar e as vendas atingiram 200 milhões de dólares anuais.
Nos anos 50, os primeiros alimentos extrusados para animais começaram a aparecer nas prateleiras das lojas, superando rapidamente as vendas de alimentos enlatados. Anteriormente, os alimentos secos para cães eram peletizados ou assados. Em 1957, a Purina lançou o Dog Chow, investindo 3 milhões de dólares no seu lançamento com o slogan "Is your dog an eager eater?" e enviou 18 milhões de cupões para os lares nos EUA. Esta campanha funcionou e após 16 meses, a Purina liderava o mercado de ração seca para cães, competindo com Alpo e Ken-L Ration, que eram os líderes da indústria na época.
Em 1962, a Purina lançou o Cat Chow, competindo com o Puss’n Boots da Quaker Oats, que liderava o mercado desde 1950 com 70% de participação. No início dos anos 60, havia à volta de 3000 marcas de alimentos para animais nos Estados Unidos.
Nos anos 60, surgiu uma nova categoria quando Mark Morris desenvolveu a Science Diet, a primeira dieta de prescrição veterinária. Até meados dos anos 80, a demanda por alimentos comerciais para animais vendidos em lojas de rações e supermercados aumentou exponencialmente. Em 1987, John Dowdy revolucionou a indústria ao abrir a primeira grande loja para animais de estimação, a Petsmart, em Phoenix, Arizona. No início dos anos 90, os alimentos para animais de especialidade representavam um bilião de dólares dos 6,7 bilhões do mercado de alimentos para animais, com a Hills Pet Nutrition reivindicando 40% do mercado especializado e a Iams 35%.
No final do século XX, os gastos dos consumidores com cães e gatos cresciam 15% ao ano e, atualmente, quase 10 milhões de toneladas de alimentos para cães e gatos são vendidos anualmente apenas nos EUA. É estimado que existam mais de 15.000 marcas diferentes de alimentos para animais de estimação à venda só nos EUA. Os EUA são neste momento o líder do mercado da Indústria de Alimentação de Animais de Estimação.
Na Europa os dados obtidos pelo Relatório Anual de 2024 pela FEDIAF, estimam que existem cerca de 235 milhões de cães e gatos na Europa, onde 25% dos lares têm pelo menos um cão e 27% dos lares têm pelo menos um gato. Em termos de vendas anuais de produtos de Alimentação Pet as receitas atingem os €29.2 biliões o que equivale a 9,9 milhões de toneladas em volume de alimentos.
Em termos globais, a receita no Mercado de Alimentos para Animais de Estimação atingiu €140,10 biliões em 2024. Espera-se que o mercado cresça anualmente 5,48% (CAGR 2024-2029), sendo a maior receita gerada nos Estados Unidos.
Como se pode ver pelos números esta é uma indústria enorme a nível mundial, que gere lucros enormes para as empresas.
A fabricação de alimentos para animais de estimação está dividida em vários setores. O setor mais conhecido é o das grandes corporações multinacionais, como Nestlé Purina PetCare, Colgate-Palmolive, Mars Petcare, Affinity Petcare.
O segundo setor é composto por pequenas empresas especializadas em alimentos para animais e pequenos negócios caseiros. Existe também um setor quase invisível, o dos fabricantes contratados ou "co-packers", que fabricam alimentos enlatados ou secos para animais para empresas pequenas e grandes, e que também produzem marcas próprias para outras empresas. Algumas das grandes empresas utilizam "co-packers" se precisarem de equipamento especial para fabricar as suas formulações, mas normalmente usam os seus próprios ingredientes e controlo de qualidade. Uma empresa sozinha pode fabricar mais de 500 formulações para mais de 1200 rótulos diferentes, sem precisar de vender sob a sua própria marca.
Hoje, há centenas de empresas que fabricam ou distribuem alimentos para animais em todo o mundo, variando de pequenos fabricantes especializados a grandes corporações multinacionais. As importações tornaram-se um problema em relação à questão de controlo de qualidade, dificultando para os consumidores e fabricantes de alimentos para animais a rastreabilidade da origem dos ingredientes. Quanto mais distante o fabricante está do produto, maior o risco de algo correr mal. Com o aumento da influência global dos fabricantes de alimentos para animais, a segurança e a regulamentação dos alimentos para animais tornam-se cada vez mais importantes. Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, a indústria é principalmente autorregulada, apesar das regras e regulamentações que variam de estado para estado, país para país e de diferentes agências. A verdade é que na maioria das vezes, a regulamentação é feita pela própria indústria, o que pode ser num problema grave dado que acabam por ser as próprias empresas a escolherem as regras que elas acham que devem ser cumpridas.
Referências:
Material do Curso Pet Food Nutrition Specialist, DNM University
Statista Market Insights
FEDIAF European Pet Food, Annual Report 2024